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Confira a entrevista exclusiva com o Diretor Executivo da Fundação SOS Mata Atlântica e celebre conosco o encerramento da semana marcada pelo Dia Mundial do Meio Ambiente
Para encerrar a semana que celebrou o Dia Mundial do Meio Ambiente, a Jornada conversou com Luís Fernando Guedes
Pinto, Diretor Executivo da Fundação SOS Mata Atlântica desde junho de 2022. Nesta entrevista exclusiva, ele nos
traz reflexões profundas e dicas práticas sobre como podemos proteger nosso planeta.
Luís Fernando é engenheiro agrônomo com mestrado em Engenharia Ambiental e doutorado em Fitotecnia pela Universidade
de São Paulo. Tem mais de 20 anos de experiência no Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola
(Imaflora) e já foi pesquisador visitante na Universidade de Oxford, com experiências na Indonésia, Estados Unidos e
Inglaterra. Além disso, é professor na Escola Superior de Sustentabilidade e Conservação (ESCAS-Ipê), membro da Rede
Folha de Empreendedores Sociais e Senior Fellow da Ashoka e participou dos conselhos de organizações internacionais
como a Rede de Agricultura Sustentável e da Iseal Alliance, e do Conselho do Agronegócio da FIESP.
Não perca esse bate-papo e inspire-se para você também fazer a sua parte pelo nosso planeta.
O papel das empresas é fundamental. E a parceria com o grupo Scania é uma referência pois ao contribuir desde
2018 para a restauração florestal de áreas estratégicas na Mata Atlântica com o plantio de mais de 150 mil mudas
ou 60 campos de futebol em hectares, também se insere no movimento da Década de Restauração de Ecossistemas da
ONU, em que a Mata Atlântica é considerada uma iniciativa de referência e da qual a própria Fundação é
parceira.”
Luís Fernando Guedes Pinto, Diretor Executivo da Fundação SOS Mata Atlântica
Qual é a importância do Dia Mundial do Meio Ambiente para a conscientização ambiental e as ações de preservação?
A missão da Fundação SOS Mata Atlântica é inspirar a sociedade a defender a Mata Atlântica, e datas como o Dia
Mundial do Meio Ambiente ajudam a chamar atenção para a importância de proteger o meio ambiente. Isso conecta as
pessoas à causa, destacando a relação intrínseca entre a natureza e nossas vidas. Um estudo recente revelou que o
Aedes aegypti não prospera em florestas naturais como a Mata Atlântica, o que poderia reduzir doenças. Além disso,
ecossistemas saudáveis ajudam a controlar doenças como febre amarela e leishmaniose. Preservar a Mata Atlântica é
vital para nossa saúde e bem-estar.
Qual é o tema do Dia Mundial do Meio Ambiente deste ano e como ele se relaciona com as atividades da Fundação SOS
Mata Atlântica?
O tema deste ano é "Mata Atlântica e Biodiversidade". Com a Conferência da Biodiversidade acontecendo na Colômbia,
queremos enfatizar a crise do clima e da biodiversidade, que estão interligadas. Biodiversidade significa a
diversidade da vida, e a Mata Atlântica é um dos biomas mais diversos do mundo, com cerca de 20 mil espécies
registradas. A biodiversidade está profundamente ligada à nossa cultura e modo de vida, refletindo-se na diversidade
cultural da região.
Como você define sustentabilidade no contexto atual e quais são os principais desafios que enfrentamos hoje?
Sustentabilidade é um alvo móvel que evolui com o conhecimento, tecnologia e demandas sociais. Simplificadamente,
busca-se um desenvolvimento que combine as dimensões social, ambiental e econômica. Hoje, precisamos de um
desenvolvimento econômico que promova a conservação ambiental, gere serviços ecossistêmicos, regenere a natureza e
distribua benefícios de forma equitativa, garantindo os direitos humanos e o bem-estar. Ainda estamos longe de
alcançar um modelo de desenvolvimento que realmente compartilhe a riqueza e preserve os recursos naturais.
Quais são as principais evidências científicas das mudanças climáticas e seus impactos na biodiversidade e nos
ecossistemas?
As evidências vêm do IPCC, que reúne cientistas para analisar as mudanças climáticas. A concentração de gases de
efeito estufa aumentou desde a Revolução Industrial, resultando no aquecimento global. Consequentemente, temos
eventos climáticos extremos como ondas de calor, frio, grandes chuvas e secas. Esses eventos foram previstos pelos
modelos científicos e estão se tornando mais frequentes e intensos.
Quais são as principais consequências das mudanças climáticas para a Mata Atlântica e para o planeta?
As mudanças climáticas causam eventos extremos que impactam a biodiversidade, promovendo extinções e migrações de
plantas e animais. Na Mata Atlântica, esses eventos resultam em desastres, como secas intensas, chuvas torrenciais,
deslizamentos de terra e incêndios, que destroem a flora e fauna e prejudicam as pessoas. Globalmente, as
consequências variam geograficamente, afetando ecossistemas, saúde humana e economia de diferentes maneiras.
As recentes enchentes no Rio Grande do Sul trouxeram grande sofrimento e perdas para a população local. Como você vê
a relação entre essas tragédias e as mudanças climáticas, e o que pode ser feito para mitigar esses impactos?
O IPCC indica aumento das chuvas no Rio Grande do Sul, eventos que podem se repetir devido às mudanças climáticas. O
Brasil precisa urgentemente mitigar as emissões de gases de efeito estufa, principalmente combatendo o desmatamento.
Além disso, é crucial adaptar as regiões de risco para enfrentar eventos extremos, utilizando soluções baseadas na
natureza, como a restauração florestal.
Quais políticas públicas você considera mais eficazes na preservação e recuperação dos biomas?
O Brasil possui políticas importantes, como a Lei da Mata Atlântica, o Código Florestal e o Sistema Nacional de
Unidades de Conservação (SNUC). Essas leis regulam o uso, conservação e recuperação da vegetação nativa. Além disso,
políticas públicas para terras indígenas e quilombolas e a Planaveg, focada na restauração, são fundamentais e
precisam ser eficazmente implementadas.
Como você avalia as políticas ambientais atualmente implementadas no Brasil? O que está funcionando e o que precisa
melhorar?
As políticas públicas ambientais são cruciais para assegurar um crescimento sustentável e equitativo. No entanto, a
legislação ambiental brasileira tem sofrido ataques contínuos, forçando organizações civis e a comunidade científica
a atuar constantemente na contenção de danos no Congresso Nacional. Atualmente, todos os biomas brasileiros estão
sob grave ameaça devido à tramitação do PL 364/2022, recentemente aprovado na Comissão de Constituição e Justiça da
Câmara dos Deputados. Considerado um grande retrocesso, esse projeto permite a degradação de mais de 48 milhões de
hectares de vegetações nativas não florestais ao considerá-las áreas consolidadas.
O debate sobre o PL 2.159/2021, que trata do licenciamento ambiental, também ilustra o árduo trabalho para evitar
danos no Legislativo. Enquanto alguns setores produtivos pressionam por flexibilizações que podem causar danos
irreversíveis ao meio ambiente, buscamos no Senado Federal aprimorar o texto da Câmara dos Deputados para garantir
um equilíbrio que promova o desenvolvimento econômico sem comprometer os ecossistemas e os patrimônios naturais
previstos na Constituição de 1988, como a Mata Atlântica, a Floresta Amazônica, o Pantanal e a Zona Costeira.
A tramitação do PL de licenciamento ambiental no Senado Federal é extremamente importante para definir os rumos que
o Brasil seguirá. Esta norma impacta diretamente a vida de toda a população e todas as atividades socioeconômicas. O
Senado tem a chance de melhorar o projeto e impedir o desmantelamento desse instrumento essencial da Política
Nacional de Meio Ambiente, além de diversas outras políticas públicas, como de recursos hídricos, saneamento,
habitação, mudanças climáticas e proteção da Mata Atlântica e dos recursos naturais.
Há alguma questão ou tema relacionado à sustentabilidade e mudanças climáticas que você acha que recebe pouca
atenção e que deveria ser discutido mais amplamente?
A adaptação às mudanças climáticas precisa de mais atenção. Além de políticas para mitigar emissões, é vital
desenvolver estratégias para adaptar nossas cidades, infraestrutura e agricultura a um planeta mais quente, com
eventos extremos cada vez mais frequentes.
Existem exemplos de outros países ou regiões que poderiam servir de modelo para o Brasil em termos de políticas de
sustentabilidade e conservação?
A Colômbia e a Costa Rica são exemplos de sucesso na conservação e sustentabilidade. A Colômbia está reduzindo o
desmatamento e explorando menos combustíveis fósseis, enquanto a Costa Rica recuperou grande parte de sua vegetação
nativa e desenvolveu uma economia baseada na natureza.
Qual é o papel da educação ambiental na promoção da sustentabilidade e na luta contra as mudanças climáticas? E
quais são os principais desafios e oportunidades na formação de novos profissionais para o campo da
sustentabilidade?
A educação ambiental é crucial para mobilizar as pessoas e promover comportamentos sustentáveis. Ela amplia a
compreensão sobre mudanças climáticas e prepara as comunidades para enfrentar desafios ambientais. Os desafios
incluem alcançar áreas vulneráveis e integrar a sustentabilidade em todos os setores, mas há oportunidades
significativas para formar profissionais comprometidos com um futuro sustentável.
Como você enxerga o papel das empresas e do setor privado na promoção da sustentabilidade e na preservação da Mata
Atlântica? De que forma a parceria da Scania com a Fundação pode contribuir nesse sentido?
Segundo as últimas edições dos relatórios produzidos pelo Fórum Econômico Mundial, a perda da biodiversidade,
aspectos ligados à oferta de água em qualidade e quantidade e clima extremo são alguns dos “top risks” que
impactarão os negócios nos próximos anos em curto, médio e longo prazo. Assim, o papel das empresas é fundamental,
junto a governos e sociedade civil, para contribuir com as metas e acordos internacionais, a exemplo do Acordo de
Paris para evitar um aumento da temperatura acima de 1,5°C; e das metas para 2030 do Marco Global da Biodiversidade.
E a parceria com o grupo Scania é uma referência pois, ao contribuir desde 2018 para a restauração florestal de
áreas estratégicas na Mata Atlântica com o plantio de mais de 150 mil mudas ou 60 campos de futebol em hectares,
também se insere no movimento da Década de Restauração de Ecossistemas da ONU, em que a Mata Atlântica é considerada
uma iniciativa de referência e da qual a própria Fundação é parceira.
Neste Dia Mundial do Meio Ambiente, quais ações concretas você sugere que indivíduos e comunidades possam adotar
para promover a preservação ambiental?
Votar em candidatos comprometidos com a conservação ambiental e visitar áreas verdes são bons exemplos. Frequentar
parques, por exemplo, ajuda a criar uma conexão emocional com a natureza, incentivando a proteção do meio ambiente.
Quais são as iniciativas da Fundação SOS Mata Atlântica planejadas para esta data e como as pessoas podem se
envolver?
A Fundação promove diversas atividades, como campanhas de sensibilização e plantio de árvores e incentiva a
participação comunitária. As pessoas podem se envolver apoiando essas iniciativas e disseminando informações sobre a
importância da Mata Atlântica. Basta acompanhar nossas redes sociais e nosso site para se inscrever e participar.
Também é possível doar para ajudar a manter nosso trabalho: https://www.sosma.org.br/doacao
Quais são as suas expectativas para o futuro da Mata Atlântica e das políticas ambientais no Brasil?
Divulgamos na semana passada os dados sobre o desmatamento da Mata Atlântica, revelando boas e más notícias. O
desmatamento diminuiu em algumas regiões do Sul, Sudeste e alguns estados do Nordeste, mas aumentou na Bahia, Piauí,
Mato Grosso do Sul e áreas de transição com outros biomas, como a Caatinga, Pantanal e Cerrado, mostrando a
interligação entre eles. É crucial proteger todos os ecossistemas e formas de vida.
Embora a diminuição do desmatamento seja positiva, ele ainda persiste, o que é inaceitável. A Mata Atlântica
continua em risco de extinção, comparável a um paciente na UTI. No entanto, não é um caso terminal ou sem cura;
sabemos como recuperá-la. E temos os melhores especialistas e soluções para isso: acabar com o desmatamento,
aumentar as áreas protegidas, restaurar a floresta e fomentar uma economia que valorize a biodiversidade.
Tudo isso é viável e necessário para que a Mata Atlântica contribua para o cumprimento do Acordo de Paris, com o
novo marco da biodiversidade, com o sucesso da Década da Restauração e a qualidade de vida dos mais de 70% dos
brasileiros que vivem no bioma e dele dependem.
A Mata Atlântica possui cerca de 5 mil espécies de árvores catalogadas, muitas ameaçadas de extinção. Um estudo
recente mostrou que mais de 40% dessas espécies estão em risco, principalmente devido ao desmatamento. É essencial
preservar e restaurar esses ecossistemas para evitar a perda irreparável de biodiversidade.
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