[ TÚNEL DO TEMPO – EPISÓDIO #5 ]
3 milhões de quilômetros para recordar
[ Texto: Simone Leticia Vieira / Fotos: Arquivo pessoal / Locução: Mônica Camillo / Produção: 528 Comunicação Com Propósito ]
Milhões de quilômetros rodados, centenas de memórias na bagagem e um grande amor, dentro e fora da boleia. Quem conta a história desse Scania T 113, que já rodou 3 milhões de quilômetros pelas estradas do Brasil - e ainda continua na ativa! - é seu companheiro de jornada Luiz Antônio Bordin.
E
le nasceu em 1950, na cidade de Getúlio Vargas, no Rio Grande do Sul. Seu grande amor nasceria 45 anos depois, em 1995. De lá pra cá, eles já contabilizam, juntos, exatos 2 milhões e 989 mil quilômetros de história, em muitas viagens pelo Brasil. Tudo isso sem direito a discussões de relação porque o coração, ou melhor, o motor nunca quis “parar para pensar”. Pelo contrário: esse coração vai muito bem, obrigada, e segue, ainda hoje, sem grandes intervenções.
Já deu para perceber que estamos falando de um Scania, não é mesmo? E esse é só o começo da história de Luiz Antônio Bordin, dono da Transportes Bordin, apaixonado pela marca e um exímio motorista de caminhão. Aos 70 anos de idade e 44 dirigindo Scania, Luiz Antônio continua na ativa e conta para quem quiser ouvir os melhores momentos vividos a bordo de seu T 113 H 4x2, fiel companheiro há 25 anos. “Vivi um grande amor com esse caminhão”, afirma. “Quando comprei esse caminhão em 1995 eu era pai. Logo depois fiquei avô e agora vou ser bisavô. Passaram duas gerações e o meu caminhão continua a ajudar a vida de todos, com escola, cursos, alimentação, vestuários, remédios, divertimento. Tudo graças a esse Scania, meu verdadeiro ganha pão. Um Scania bem cuidado é para a vida toda e o bem de muita gente”, conta.
Atualmente ele mora em Anápolis, no interior de Goiás, e desde 1976 só trabalha com a marca Scania. É em uma oficina da cidade que ele faz as manutenções periódicas do veículo. “Só uma pessoa faz manutenção no meu caminhão. É uma firma em Anápolis que só trabalha com Scania, chamada Scanápolis. Toda a vida fiz as revisões ali. Já se foram 2 milhões e 989 mil quilômetros sem trocar nenhum anel, meia sola nem nada. Talvez seja o caminhão que mais rodou no Brasil sem reforma do motor”, orgulha-se Luiz Antônio, que foi e é o único dono dessa relíquia.
Também, pudera, ele cuida do veículo como cuida da própria saúde. “Durmo bem, como bem e não maltrato o sono. Não forço a saúde. A hora que dá vontade de parar ou se der sono, eu paro e durmo seis a oito horas por noite. O sono é o alimento do corpo. Trabalho até 15 horas por dia e rodo cerca de 700 km. Não ando em alta velocidade nem cometo excesso de peso. Prefiro eu me ‘judiar’ uma hora a mais do que ‘judiar’ do veículo. O caminhão é minha vida, por isso tenho que cuidar dele”, explica.
Do checkup à estrada
Os consertos que fez no veículo foram poucos: nove trocas de bronzinas na parte debaixo do virabrequim; duas revisões nos cabeçotes, guias de válvulas e limpezas, mas sem nunca ter precisado trocar os cabeçotes ou a tampa dos cilindros; três trocas de radiador e cinco de turbinas. Por precaução, a caixa de marchas ganha sempre três litros de óleo acima do necessário e o óleo do motor é trocado a cada 22 mil km, no máximo, quando o recomendado é com 40 mil. Além disso, coroa e pinhão, responsáveis pelo controle de velocidade do caminhão, são originais e foram revisados apenas cinco vezes nesses 25 anos de estrada.
Sob esses cuidados e um olhar muito atento, o T 113 viaja uma vez a cada 25 dias para levar produtos de limpeza, como sabão, de Anápolis, em Goiás, para o mercado de Belém, no Pará, de onde volta carregado de castanha para a cidade de Brasília. E no que depender do seu par, ele não vai parar tão cedo. “São 52 anos de carteira de motorista de caminhão. Não paro por amor ao serviço”, conta Luiz Antônio. “Mas se eu pensar em parar e vender o caminhão, várias pessoas já se manifestaram com interesse em comprá-lo porque ele só teve um dono, tem procedência, documentação em dia, muitas histórias e só dá alegria pra gente”, orgulha-se.
Do lado de dentro
Esse amor ele herdou do pai, que trabalhava em um posto de combustíveis e serviços em Getúlio Vargas (RS), sua cidade natal. Luiz Antônio conta que, na época, o pai o levava à tarde, depois do colégio, para trabalhar com ele no posto. E foi assim que ele foi “pegando gosto” por caminhão. Quando completou 18 anos, ele tirou sua carteira de motorista para dirigir caminhão. Começou no transporte de trigo, soja e produtos agrícolas para cooperativas e silos da região de Lagoa Vermelha, também no Rio Grande do Sul, e teve a ajuda de muitos amigos, como Valdir Ivo Guiotto, que o ajudou a comprar seu primeiro Scania, antes mesmo da chegada do T 113.
Essas experiências ele carrega junto de outras tantas memórias. “Um amigo meu, Alcides Bortolini, foi para Canoas, e foi lá com ele que dirigi o primeiro Scania em 1976. Era um 110, puxando tanque. Dali em diante nunca mais saí do Scania. Até que em 1995 comprei esse T 113. Emplaquei em Canoas e em 2002 me mudei para Anápolis”, explica ele, que lembra, até hoje, a data exata da compra desse verdadeiro xodó: “29 de junho de 1995. São 25 anos ao lado desse caminhão.”
Dessa coleção de histórias em tantos anos e quase 3 milhões de quilômetros viajados ele só quer se lembrar das que são felizes, embora já tenha vivido muitos desafios e momentos difíceis na boleia do icônico 113. “Não penso em dinheiro, se pensasse já tinha morrido. Gosto do caminhão, trabalho por prazer”, comenta. E com tanta experiência na bagagem – do caminhão e da vida -, ele aconselha quem está chegando na estrada: “Não se irritar e levar a vida com otimismo. Honestidade, bondade e ser trabalhador. E lembrar que a felicidade não é o dinheiro que traz. A gente é feliz é por dentro”. Mais ainda se for dentro de um Scania.
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