[ Nostalgia - Episódio #4 ]
“Caminhão, filho, é Scania”
Foi na boleia de um L 76 que Lucio Gonçalves Machado ouviu essa frase e tantos outros sábios ensinamentos de seu pai, Jair de Oliveira Machado. Ali nascia uma paixão pela Scania, pelo transporte e, mais tarde, a empresa da família.
Q
uando Jair de Oliveira Machado comprou seu primeiro Scania, um L 75, ele não imaginava que estava dando início a uma longa e linda trajetória de amor pelo transporte. Era 1959, somente um ano depois de a Scania ter começado a comercializar o modelo no Brasil. Em 1963, a marca lançou seu novo caminhão, totalmente fabricado no país, o L 76, que faria história nas estradas e na vida de muitas empresas e profissionais. E fez: a de Jair foi uma delas.
Caminhoneiro nato, foi a bordo de um L 76 que ele, assim como a Scania, construiu um legado e viu sua família crescer. Quem conta essa história é Lucio Gonçalves Machado, filho de Jair, que herdou do pai a profissão e a paixão pelo volante.
“Aprendi a dirigir com meu pai. Eu o acompanhava nas viagens e ele me ensinava. Aos poucos fui treinando até aprender a dirigir. Viajamos muito para Goiás, Mato Grosso, São Paulo, Minas Gerais, Brasília, enfim, o Brasil todo. Não tinha muito local, onde tinha carga, a gente ia”, conta Lucio. Nessa época, pai e filho transportavam grãos e cargas em geral. “Depois de um tempo, iniciamos no tanque, levando cargas não inflamáveis ou sebo bovino”, explica
Mas, independentemente do tipo de carga, as viagens sempre vinham acompanhadas de bons desafios. “Uma delas, me lembro bem, estávamos em Paranatinga, no Mato Grosso, e naquela época não tinha estrada asfaltada nem nada. Deu uma pane no caminhão e eu me apavorei. Meu pai foi, calmamente, e sanou o problema. Além de motorista, ele era mecânico também, fazia tudo no caminhão. Naquele dia eu ouvi dele ‘Caminhão, filho, é Scania’. E também aprendi que a dificuldade sempre vai vir, mas temos que ter calma e pensar pelo lado positivo”, relembra Lucio.
E foi ali, na boleia desse Scania, que, além de aprender a profissão e tantos ensinamentos importantes para a vida, Lucio seguiu carreira como motorista carreteiro.
Durante seis anos, a vida dele foi atrás do volante. Até que decidiu “dirigir” de outra forma quando teve a iniciativa de abrir sua própria transportadora, a Reluma Transporte e Logística, na cidade de São José do Rio Preto, em São Paulo.
“Meu pai sempre foi caminhoneiro nato. Ele não tinha o dom de empreender, o negócio dele era dirigir caminhão. Aí eu entrei na história para aprender a profissão. Fiquei seis anos como motorista, viajando junto com ele, durante todo o trajeto, dormindo dentro de caminhão e assim digo que iniciamos a empresa”, explica Lucio.
Hoje, a transportadora, que atua com cargas alimentícias, tem 13 funcionários e 10 veículos, todos Scania. ”Sempre acompanhamos a evolução da marca. Tivemos L 110, 111, 112, 113, 124. Até que em 2013, pela parceria que temos com a concessionária Escandinávia, conheci a fábrica da Scania e compramos os R 440 6x2 2013. Fico impressionado com a evolução da marca, melhorou em todos os sentidos: segurança, conforto, tudo isso agregou muito em benefício do motorista e de quem está na estrada. Fora a segurança que você tem por ser um Scania. É potente, econômico e o resultado final é só positivo”, destaca.
E o L 76? Continua na família, mas não na frota. “Hoje esse caminhão não viaja mais, fica para os passeios e para relembrar aqueles momentos que tivemos com meu pai viajando. Iniciei minha carreira com 18 para 19 anos, foi nosso primeiro caminhão e isso ficou na memória. Então guardei como recordação”, conta Lucio.
É claro que essa relíquia chama a atenção por onde passa. Afinal, essa carreta foi capaz de carregar 55 anos de memórias e boas histórias, além das cargas secas que pai e filho, juntos, já transportaram Brasil afora. “Recentemente fizemos um passeio em família e fomos rever os amigos da estrada. Costumamos parar em uma concessionária Scania ou em um posto de gasolina. Todo mundo quer ver o caminhão, chama muita atenção”, relata. “É o xodó da família. Vamos com ele nos encontros de caminhões antigos e é uma maneira de rever os amigos. Ficou como relíquia e in memoriam para meu pai. Recebi várias propostas de compra, mas é um valor sentimental, não é um valor que possa ser pago. É o início de tudo”, acrescenta.
Foi o início de uma história de muitos aprendizados que fazem com que hoje Lucio possa também aconselhar outras gerações de motoristas que, assim como ele, sabem os sabores e dissabores de viver na boleia.
“O motorista passa muito mais tempo na estrada do que com sua própria família. Muitos veem seus filhos crescerem e ele está na estrada dando duro. São heróis sem medalha. Se eu pudesse dar uma dica seria nunca desista, sempre trabalhe pensando positivo e de alguma forma você vai vencer. Estive como motorista e hoje como empresário, trabalhei muito. A oportunidade que tive de ter a minha transportadora foi feita 99% de transpiração e 1% de inspiração. Sabemos que é uma vida difícil, tem que ter certa disciplina para continuar, mas isso é para todo caminhoneiro, autônomo ou funcionário. E com certeza um dia chegará lá”, aconselha Lucio.
Sem dúvidas, esse foi o maior legado deixado por Jair. Muito mais valioso que o saudoso L 76 que aliás, se tivesse voz além do ronco do motor, certamente concordaria. Ah se esse caminhão falasse...
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