[ Testes de Campo Brasil ]
Missão (im)possível
e secreta!
[ Texto: Simone Leticia Vieira / Foto: Arquivo pessoal ]
A história de Juarez Ferri com a Scania e sua paixão por caminhões começou nos anos 80, quando o modelo em voga ainda era o lendário jacaré. Além de acompanhar as tantas mudanças e evoluções do setor, ele também testou, em segredo, os caminhões da nova geração da Scania.
E m tempos de informação instantânea, basta um celular com internet de alta velocidade, dedos ágeis para disseminar a notícia, um clique na tela e lá estão as redes, abastecidas com fatos que, muitas vezes, deveriam ser sigilosos. Isso sem falar nas especulações: quem acompanha as tendências de mercado, seja qual for o segmento de seu interesse, já sente, de longe, as novidades pairando no ar. Com os fãs Scania não seria diferente.
Manter em segredo um novo modelo de caminhão, circulando com ele estrada afora, é tarefa para poucos. Essa missão impossível de Juarez Ferri começou há um ano e meio, quando o profissional, que até então trabalhava no setor de logística de uma empresa parceira da Scania, foi convidado a testar o protótipo da nova cabine S.
“Desde o início da minha carreira, ainda nos anos 80, eu trabalho em empresas que são fornecedoras ou clientes da Scania. Em 2008, decidi abrir o meu próprio negócio e passei a atuar como consultor nessas empresas. Assim, eu sempre mantive contato e estive envolvido com as equipes Scania da fábrica e dos concessionários. Até que tive a honra de receber esse convite para testar, junto com o time de engenharia da Scania Brasil, o protótipo do lançamento”, relembra.
As viagens, realizadas dentro e fora da planta da Scania em São Bernardo do Campo, trouxeram a oportunidade de conhecer de perto o que seria o maior lançamento da história da marca, mas os trajetos também foram sigilosos – e continuam sendo, já que muitos deles levam aos campos de testes da marca.
Juarez é comprometido não só com o seu trabalho, mas também com a marca. Ele não conta em que tipo de estrada passou durantes os testes, nem por onde. Só revela que viajou com algumas unidades camufladas da nova cabine por estradas do Sul e do Sudeste do Brasil.
Juarez Ferri, Master Driver Scania.
Do teste ao treino
Das rotinas de teste surgiu um novo convite. Juarez passou, então, a coordenar o treinamento dos motoristas de toda a Rede de Concessionários Scania em um projeto na base aérea de Santos, litoral de São Paulo, meses antes do lançamento do novo caminhão, que aconteceu no final de outubro deste ano. O intuito era capacitar as equipes da Rede, tendo por base toda a experiência adquirida nos 18 meses de testes em campo.
“Já tínhamos feito um trabalho parecido em 2017 com outro modelo, o Heavy Tipper. A fábrica me chamou, em julho deste ano eu fui para a base e quando cheguei lá a equipe já estava sendo formada. Em duas semanas, os caminhões foram chegando e já iniciamos os treinamentos”, conta.
O fim dessa história foi só o começo: para Juarez, o início de um novo caminho profissional, desta vez como Master Driver da concessionária Codema de Guarulhos, em São Paulo; para a Scania, a estreia de uma Jornada rumo a um setor de transporte mais sustentável, com o lançamento da nova cabine S.
“O trabalho deu tão certo que fiz uma transição profissional, saindo da empresa parceira da Scania para ser contratado pela Codema. Hoje faço parte da concessionária e componho o time de 27 Master Drivers da Rede Scania no Brasil”, explica, orgulhoso. “Mas não para por aí, pois a capacitação e o aprendizado são contínuos. Nunca conhecemos tudo de um caminhão, há sempre o que aprender e ensinar. Por isso os treinamentos acontecem o tempo todo, para que possamos conhecer profundamente todos os detalhes do veículo.”
De volta para o futuro
Quando questionado sobre as melhorias de que mais gostou no novo caminhão da Scania, Juarez não arrisca dizer uma ou duas características, mas faz uma comparação impecável: “Eu sempre acompanhei a Fórmula 1 e posso dizer, com franqueza, que mesmo o caminhão não sendo um veículo de velocidade, hoje ele tem os mesmos padrões de tecnologia e de segurança que os carros de corrida.”
“A interatividade com esse produto é fantástica! Sou de uma época em que os caminhões não tinham ar condicionado, era preciso colocar um ventilador na cabine. Sem falar da luz vermelha que acendia para avisar que era melhor parar o caminhão pois ele estava quente demais. Hoje, além do conforto, temos, com a conectividade, uma visão de fora para dentro e de dentro para fora. Ou seja, quando preciso de qualquer coisa desse caminhão, eu sei o que devo fazer”, diz.
E o que fazer no futuro? Mudar de profissão ou tentar outra coisa da vida? A resposta é imediata: “Desde que seja a mesma.”
Agente Secreto
Como lidar com o sigilo e os espiões durante os testes de
campo?
Juarez Ferri viveu situações inusitadas em sua missão de “agente secreto”.
Os testes de campo da nova geração de caminhões Scania foram um grande desafio. Os motoristas que participaram dessa missão (im) possível lançaram mão de técnicas avançadas de camuflagem e de preparativos para manter a identidade, o estilo e as novas características do veículo em segredo.
Para Juarez Ferri, a segurança em torno do caminhão era uma das questões mais importantes no dia a dia. A tarefa foi delicada já que os curiosos ficam atentos pelas estradas à procura dos novos modelos. “Não dava para parar com as cortinas abertas nem deixar o veículo muito exposto, pois as pessoas já vinham com o celular na mão para fotografar ou filmar. Eu fechava as cortinas e, quando alguém me perguntava se era um novo modelo, eu respondia, gentilmente, que se tratava de um protótipo usado apenas internamente na fábrica”, conta. “E quando íamos pernoitar em algum hotel, sempre me preocupava em encontrar um local seguro para guardar o caminhão, às vezes até no estacionamento do próprio hotel.”
Seja pela janela do veículo em que estão, seja durante as paradas para as refeições ou pernoites, seja abordando o motorista, valia de tudo para conseguir um clique da nova máquina dos sonhos, até mesmo pôr o pé na estrada para seguir parte do trajeto de Juarez. Ele se diverte: “Em algumas cidades menores – daquelas que a gente brinca dizendo que é só passar a segunda marcha e a cidade já acabou – os jovens já ficavam no trevo aguardando para fotografar o caminhão. Outros seguiam a gente pela estrada. Era engraçado.”
Mas, por maior que fosse o esforço para camuflar e esconder o caminhão, quem é apaixonado pela marca reconhece de longe um Scania. Juarez que o diga: “Em um dos dias de viagem de teste, cheguei com o caminhão em um posto e, ao parar, um rapaz se aproximou do veículo. Mas, ao invés de vir falar comigo, ele riu e já saiu em busca do chassi, dizendo: ‘Já sei que não posso olhar o lado de dentro dessa cabine, que é nova, mas aqui embaixo do caminhão eu posso! Quero ver o que mudou!’. Não tive o que fazer a não ser dar risada. Mas mesmo assim, não contei nenhum detalhe da novidade que estava prestes a ser lançada”, relembra, sorrindo.