Sustentabilidade não é opção, é necessidade

22 / 10 / 2020

Sustentabilidade não é opção, é necessidade
Como as mudanças climáticas e os impactos nos negócios, também acelerados pela pandemia, têm levado as empresas a lançar um novo olhar para a sustentabilidade, que agora passam a incluir o tema como parte de suas estratégias.

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Quando pensamos no futuro e em sustentabilidade, sabemos que estamos em uma estrada sem volta. Mas, será que as empresas não sustentáveis perdem mesmo vez e voz no mercado? Os investidores estão reconhecendo e apostando de fato nas empresas que olham para a sustentabilidade como estatégia central de seus negócios? Como tirar projetos verdes do papel e colocá-los em prática?
Para responder a essas perguntas e tantas outras questões que se relacionam com o tema, como a tão comentada ESG (sigla para práticas ambientais, sociais e de governança), a Scania reuniu Fábio Alperowitch, CFA - Fama Investimentos; Gleice Donini, Superintendente de Sustentabilidade na B3; e Ana Cristina Costa, Chefe do Departamento de Bens de Capital, Mobilidade, Aeronáutica e Defesa da Área de Indústria, Serviços e Comércio Exterior do BNDES para mais um painel do Sustainable Talks, que aconteceu em outubro.
Como bem colocado pelos especialistas, ESG não é novidade. Ao mesmo passo que a temática ganhou evidência pelas urgências do momento e do mundo corporativo, acelerou investimentos e iniciativas de empresas dos mais diferentes tipos de segmentos. Mais do que isso, despertou o interesse de investidores e abriu espaço para que este novo olhar saia do discurso e se torne prática, que se converta em ações, produtos e serviços sob este viés.
Para a Scania, esse caminho sem volta se desenhou com a chegada da Nova Geração de Caminhões, que impulsionou o setor de transportes a também se movimentar na mesma direção. A marca foi ainda além e com base em seus três pilares de desenvolvimento – eficiência energética; transporte inteligente e seguro; e combustíveis alternativos e eletrificação – trouxe novas alternativas para o mercado, como o caminhão a gás, colocando em prática seu propósito de liderar a transição para um sistema de transportes mais sustentável. O mercado respondeu rapidamente a essa transformação proposta e já contabiliza 50 veículos livres de combustíveis fósseis pelas estradas brasileiras. Foi preciso investimento e foco, mas também parceiros que compartilhem do mesmo ideal e seguem a mesma jornada - que está só começando.
Mão única
Fabio também acredita que este é um caminho sem volta. Para ele, que já tem uma longa estrada trabalhando com sustentabilidade, essa transformação no olhar das empresas para o tema passa também pela mudança de comportamento das pessoas. “Tanto do lado ambiental como dos direitos humanos, precisamos olhar o mundo de forma diferente. Sustentabilidade não começou ontem, mas por que estamos falando disso agora? São muitas razões. A mais relevante é a urgência. As pessoas estão impactadas por tudo que está acontecendo e não é mais possível ser conivente com algumas situações. Tem também a questão geracional: a geração Z vem cheia de propósito, entendendo das questões emergenciais, clima, e hoje ela ocupa um papel de consumidor. Muito em breve essa geração estará ocupando as funções de líder, como analistas de investimento, políticas públicas, com poder relevante. Então só vejo o movimento do ESG crescer à medida em que essa geração da população também cresce”, explica.
De acordo com Fabio, se antes as companhias tinham como foco única e exclusivamente o aumento da lucratividade, em uma postura muito mais individualista, hoje já experimentam o corporativismo inclusivo, humanizado e colaborativo. “Trinta anos atrás as companhias tinham como foco aumentar o lucro e para isso muitas passavam por cima do propósito. Se fosse preciso ‘amassar o fornecedor’, como costumávamos falar, não tinha problema, mesmo se ele quebrasse. Encontrava-se outro. Era normal demitir 3% da força de trabalho ao final do ano. A cada ano as empresas buscavam matérias-primas mais baratas, ainda que não fossem de qualidade ou duradouras, e com isso aumentavam sua rentabilidade. Existia pouco compromisso com os stakeholders. A grande maioria pensava só nos acionistas. Esse modelo começou a ser questionado por muitas companhias, que passaram a entender que isso não seria duradouro por ser muito destrutivo”, pontua Fabio.
Para avançar a jornada
Graças a esse movimento de mudança, é possível ver atualmente empresas serem avaliadas por índices e indicadores ambientais, inclusive pela Bolsa de Valores do Brasil, a B3. Gleice Donini é Superintendente de Sustentabilidade na B3 e conta que esse trabalho já existia, mas foi acelerado pela pandemia. “A B3 é pioneira em algumas frentes. Foi a primeira bolsa do mundo a se tornar signatária do pacto global. Nesse movimento de vanguarda, atuamos com a temática há bastante tempo, sempre conectados com as mudanças do mercado. A pandemia trouxe muitas reflexões e entendemos que temos também a oportunidade de ser um player que pode induzir as boas práticas das companhias. Temos a intenção de trabalhar em agendas de compartilhamento dessas boas práticas para acelerar o mercado, trazer e fazer parcerias com importantes players, títulos verdes que possam promover o avanço em projetos para o desenvolvimento sustentável, enfim, podemos acelerar essa agenda conectada, sempre olhando para produtos e serviços que viabilizem uma mudança para clientes e stakeholders com os quais temos atuação”, ressalta.
O BNDES compartilha desse mesmo objetivo. Além de historicamente já transitar entre os mais diversos perfis empresariais, da iniciativa pública à privada, e de responder por parte dos investimentos das empresas e do mercado, a instituição também contribui para fomentar discussões acerca da sustentabilidade.
Um exemplo é a Semana BNDES Verde que, como detalha Ana Cristina Costa, Chefe do Departamento de Bens de Capital, Mobilidade, Aeronáutica e Defesa da Área de Indústria, Serviços e Comércio Exterior do BNDES, tem exatamente o intuito de promover debates sobre o tema. “Começamos a semana BNDES verde com a intenção de debater com especialistas internos e externos, do setor privado e público, esse mesmo tema para ver como podemos contribuir e colocar o BNDES como articulador, viabilizador dessa conversa na sociedade com viés de políticas públicas. É importante também termos uma visão de previsibilidade de para onde o governo está caminhando nessa temática”, diz.
Ana também reforça o papel inerente ao BNDES como apoiador de projetos e iniciativas mais verdes. “Como banco de desenvolvimento brasileiro, a instituição já traz um histórico bastante extenso. Apoiamos setores de energia limpa, como o eólico e o solar, fazemos trabalhos de desenvolvimento da cadeia local, credenciamos o caminhão a gás e trazemos condições mais atrativas para projetos sustentáveis. Então conseguimos conciliar objetivos históricos e fazer com que esses desenvolvimentos sejam também sustentáveis. Há cerca de 2 anos o BNDES inseriu em seu planejamento os ODSs [Objetivos de Desenvolvimento Sustentável], relacionando os objetivos da ONU e a agenda de sustentabilidade do próprio BNDES. Com isso, o banco quer se posicionar como mobilizador e articulador dessa agenda de debates. Acreditamos que conseguimos cumprir esse papel porque trabalhamos com os setores público e privado, conhecendo a dinâmica dos dois mercados”, sinaliza.

Confira o debate completo:

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