Clima e saúde estão conectados?
O Sustainable Talks começou e o tema do primeiro painel não poderia ser mais próximo do nosso dia a dia. As discussões do encontro evidenciaram os impactos das mudanças climáticas na nossa saúde e qualidade de vida e trouxeram uma importante reflexão: não se trata de 70 anos à frente, mas do que pode ser feito aqui e agora.
Pare cinco minutos do que você está fazendo, silencie você mesmo e o seu entorno e escute a sua cidade. Onde quer que você more ou esteja neste momento, todo e qualquer lugar no mundo pulsa e tem um som. Um não, muitos. Já parou para pensar em quantos deles interferem na sua saúde? Mais do que isso, impactam nas mudanças climáticas do mundo.
Essas foram algumas das questões discutidas no primeiro dia do Sustainable Talks, evento online promovido pela Scania entre 19 e 23 de outubro com o objetivo de fomentar a Agenda 2030 e reforçar ações para o atingimento das metas do Acordo de Paris. Com o tema “Impacto das mudanças climáticas na saúde”, o painel contou com a participação de Paulo Saldiva, Ph.D., Médico Patologista e Professor da Universidade de São Paulo (USP), e Patrícia Iglecias, Diretora-Presidente da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB) e trouxe à tona como as emissões interferem na qualidade de vida da população.
E, de fato, como é que isso acontece?
Especialmente nos grandes centros urbanos, é comum ver o aumento das doenças respiratórias, infarto e AVC, casos de câncer e de doenças infecciosas, causadas pelos efeitos do aquecimento global no organismo humano. Segundo o Ministério da Saúde, as mortes no Brasil em decorrência da poluição atmosférica aumentaram 14% em dez anos.
Os números são mesmo assustadores. De acordo com Paulo Saldiva, 6% das internações hospitalares do Sistema Único de Saúde (SUS) são decorrentes de variações de temperatura. “Cada região tem uma zona de conforto térmico que se adapta, variações da temperatura, mas também tem a velocidade com que essa mudança de temperatura ocorre, o que leva a mudanças significativas na saúde humana. Em média, 6% das internações hospitalares do SUS são decorrentes de variações de temperatura. Por exemplo, em São Paulo morrem de doenças cardiovasculares e respiratórias ao redor de 70 pessoas e em média 50% pelo efeito da onda de calor. Morrem por que? Porque geralmente o calor seco desidrata, fazendo com que os mecanismos de defesa respiratória fiquem comprometidos, então as bactérias ficam retidas no organismo”, explica.
Além dessa questão, existe ainda a toxicidade pela absorção dos poluentes emitidos pelo transporte. “Da mesma forma que o cigarro, existe uma imunotoxicidade que faz você perder a capacidade de lidar com bactérias e vírus que chegam no seu corpo. Em São Paulo, o transporte coletivo é um fumo em que não se tem escolha: você fuma dois a três cigarros por dia. É um cigarro que você não acende, ele te é imposto. Portanto, não se trata somente de uma questão ambiental, mas de saúde e de direito do ser humano”, pontua Saldiva.
Agenda positiva
É essa “conversa” com a cidade que faz com que os órgãos regulatórios possam ouvir o que cada local diz e agir para a melhoria da gestão de recursos em prol do meio ambiente e, especialmente, da qualidade de vida da população. Este é o papel, por exemplo, da CETESB. Os desafios são muitos, não há dúvidas, mas economia circular, aproveitamento de resíduos para geração de energia, entre outras ações importantes para o aqui e agora já são parte da agenda da Companhia, em parceria com o setor empresarial.
“É importante termos uma agenda ambiental, com impacto positivo. No setor sucroenergético isso já está acontecendo, por exemplo, para que a biomassa possa se transformar em combustível e possa ser aproveitada”, destaca Patrícia Iglecias, Diretora-Presidente da CETESB.
Nesta agenda também está a transformação do sistema de transportes e a Scania já tem feito a sua parte. “Sustentabilidade na Scania não é nenhuma novidade. É uma jornada que já começou há alguns anos, pouco depois do Acordo Climático de Paris, quando introduzimos algumas tecnologias, feita ao lado de nossos clientes e parceiros. Nesse momento definimos mais do que uma estratégia, mas uma razão de existir. Começamos com uma pauta que tinha como objetivo principal descarbonizar o setor de transporte e logística, fomos inovando, desapegando do passado e buscando uma transição para um modelo de negócios mais sustentável. Agora em 2020, apesar da pandemia, ainda com impactos econômicos e sociais que não podemos mensurar, tivemos a oportunidade de reforçar o nosso compromisso com a sustentabilidade. Estamos falando de uma mudança cultural, em ser parte do problema, mas querendo ser parte da solução. E, claro, sabemos que não podemos fazer essa jornada sozinhos”, explica Christopher Podgorski, Presidente e CEO da Scania Latin America.
Mudança de hábitos
Paulo Saldiva complementa que essa mudança cultural já veio acontecendo se olharmos para os últimos 30 anos. “Hoje a gente sabe que a poluição saiu de uma área investigativa para estar nos estudos da área da saúde como um dos agentes de pesquisa. Mudou também a mentalidade, porque quando você conversa com pessoas que têm padrão de consumo maior de energia não é porque são más, mas porque foram criadas em uma realidade que precisa ser revista. É difícil fazer mudança de cultura. Precisamos andar um pouquinho mais depressa, mas já avançamos bastante”, afirma.
Patrícia Iglecias reforça também que com pequenas atitudes talvez seja possível acelerar essas mudanças que o mundo tanto quer e precisa. “Com a pandemia tivemos uma melhora na qualidade do ar, mas não podemos dizer que isso muda o padrão se não houver outras mudanças no comportamento. O uso do etanol emite muito menos que a gasolina e é uma alternativa que temos no momento atual. O uso do tele trabalho, em algumas funções isso não é viável, mas podemos pensar em horários alternativos para não termos os horários do rush de manhã e no final do dia. Ou seja, a pandemia trouxe mudanças, mas precisam ser constantes. Quantas vezes as pessoas pegam o carro para ir a um lugar próximo que poderiam ir a pé? Então, além das políticas públicas, temos que pensar nas mudanças de postura e nas influências que cada um da nossa sociedade pode realizar”, ressalta.
Ficam, então, o questionamento e a reflexão: quais pequenas mudanças você está fazendo em seus hábitos que podem contribuir para as grandes mudanças que você quer ver no planeta e na sua própria qualidade de vida? “É preciso ter uma visão integrada, tratar a saúde humana não como a saúde das pessoas que moram na cidade, mas como a manutenção do ecossistema urbano do qual o homem faz parte. É preciso achar soluções para que todo mundo evolua junto”, conclui Saldiva.