Combustíveis renováveis já são realidade no Brasil. O gás natural não nos deixa mentir e os testes do primeiro caminhão movido a gás natural e biometano da história do país também comprovam essa máxima, mostrando o caminho para um transporte
cada vez mais limpo.
“Na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Peçamos emprestada a célebre frase de Antoine-Laurent de Lavoisier para falar sobre um dos temas mais discutidos – e necessários - na atualidade: a produção de combustíveis limpos. Aliás, esse famoso químico francês, se fosse vivo, estaria mais do que feliz ao ver os resíduos do agronegócio, por exemplo, se transformarem em biometano para caminhões pesados ou para geração de energia elétrica. Mal sabia ele, lá nos idos anos de 1777, quando disse a frase em questão ao provar uma de suas teorias - o princípio da conservação de massas -, que séculos depois essa máxima seguiria valendo, na química, na vida, no mundo dos transportes.
Os testes com o caminhão movido a gás natural veicular (GNV) e/ou biometano da Scania na São Martinho são a prova mais atual de que Lavoisier estava certo: nada se perde, tudo se transforma. É lá que o G 410 XT 6x4 é abastecido com o GasBio, nome dado ao combustível da ZEG, produzido a partir do biogás do Centro de Tratamento de Resíduos Leste, no distrito de Sapopemba, em São Mateus (SP). O veículo demonstrou bons resultados durante a operação do primeiro caminhão fora de estrada 100% movido a biometano no Brasil, país que tem um potencial gigantesco a ser explorado quando o assunto é geração de fontes energéticas limpas.
De acordo com a Associação Brasileira do Biogás (ABiogás), a capacidade de produção de biometano no setor sucroalcooleiro e no agronegócio é de cerca de 70 milhões de m³/dia. Esse foi apenas um dos destaques da live “Biometano: Transporte Sustentável Aqui e Agora”, que, além da Associação, contou também com a participação da Scania, ZEG, GasBrasiliano e São Martinho.
Caminho da inovação
Entre os temas mais comentados esteve a forte ligação entre o uso de fontes renováveis na cadeia logística e o que é inovação e sustentabilidade nos negócios. “A São Martinho possui um sistema de gestão da inovação que coordena a execução de projetos como este, de uso do biometano em caminhões que transportam cana-de-açúcar. As soluções são consideradas viáveis quando há indicadores técnicos positivos, como a redução dos custos de produção e a criação e inovações que tornem o negócio mais sustentável. Esse projeto com o biometano atua nas duas frentes”, explica Walter Maccheroni Junior, Gestor de Inovação da São Martinho.
O executivo também mencionou a produção do combustível a partir da vinhaça, outro projeto inovador da empresa, hoje um dos maiores grupos sucroalcooleiros do Brasil. “Investimos na vinhaça e na sua utilização de diversas maneiras. Uma delas é a substituição do diesel, ou qualquer combustível mais poluente, pelo biometano”, ressalta.
Não à toa a São Martinho é uma das parceiras da Scania nesta transformação do setor de transportes, o que, segundo Gustavo Bonini, Diretor de Relações Institucionais e Governamentais da Scania Latin America, já está acontecendo. “Setenta por cento do diesel utilizado para transporte de caminhões poderia ser agora substituído pelo biogás pelo levantamento da biomassa já disponível em nosso país, tanto vindo do esgoto, do lixo, mas principalmente do agronegócio”, comenta.
Para ele, que foi o mediador do evento, o ciclo se completa por estar baseado em três pilares: ambiental, econômico e social. “É uma solução aqui e agora, disponível, viável. Não estamos falando de futuro. Isso também engloba tudo que pode ser criado de emprego e renda com a economia circular do biogás”, destaca.
É nisso que também acredita Daniel Rossi, CEO do Grupo Capitale e Fundador da ZEG. “Estamos trabalhando bastante não só com a São Martinho, mas com a Scania para tornar a conversão da frota uma realidade cada vez mais próxima. O que estamos fazendo é ajudar as usinas e o mercado a encontrar uma solução para baratear seus custos e fazer com que sua jornada pela sustentabilidade, e sendo grandes produtoras de combustível renovável, seja completa. E fazer isso gerando emprego, sustentabilidade, mudando a matriz energética, dá muito mais prazer”, afirma.
Integrar é preciso
Essa mudança vem acontecendo em diferentes frentes, inclusive na expansão de projetos que visam a distribuição do gás natural que hoje já está disponível para utilização e representa o combustível verde disponível aqui e agora. “Nosso histórico com o setor é na busca da integração à rede de distribuição. Isso vai dar acesso à usina ao grande mercado consumidor de gás, tanto para alavancar a produção de energia elétrica, como para a eventual aquisição de biometano no futuro ou o uso do gás natural nas usinas. Começamos esse processo há alguns anos com a São Martinho. Passamos a ter um centro de abastecimento na própria usina e em 2019/2020 começamos os testes com o Scania 100% a gás. Esse trabalho culmina hoje com a ligação da usina à rede de distribuição e abre um leque de oportunidades”, revela Alex Gasparetto, Diretor-Presidente da GasBrasiliano.
Com a novidade, a Usina Santa Cruz, situada em Américo Brasiliense, em São Paulo, passa a ser a primeira do Brasil a estar interligada à rede de distribuição de gás natural.
Dos testes aos resultados
Além deste desafio com o gás, que colocaria o Brasil em outro patamar quando se fala de eficiência energética, já que o país é um produtor natural do ativo, o mercado enfrenta outros obstáculos, como a dificuldade de disseminação do uso do biogás ou do biometano entre as possibilidades de fontes energéticas mais limpas.
“O biogás não precisa de subsídios, mas de um arcabouço que permita que esse mercado se desenvolva. E para isso precisamos de um marco legal que dê previsibilidade e conforto ao investidor”, comenta Gabriel Kropsch, Vice-Presidente da ABiogás.
É claro que as demonstrações têm um papel importante nesse processo. Afinal, os períodos de teste ajudam a comprovar que os resultados positivos vão muito além do bem do planeta – o que é um ganho enorme!
Para Walter, a chegada dessa tecnologia foi uma virada de chave. “Já temos uns cinco anos de testes com o GNV e agora biometano com caminhões, no transporte de cana. São caminhões de maior potência, que transitam tanto no asfalto como em pistas de condições mais drásticas, e nas duas situações temos bons resultados. O caminhão a gás foi um marco, os resultados são excelentes, promissores, e nos deixam animados para os próximos passos”, conta.
“Do ponto de vista de eficiência, tivemos bastante sucesso. O biometano comprovadamente traduz a mesma eficiência, uma entrega muito similar ao diesel. E você ainda consegue intercambiar com gás natural, fazendo com que seja flexível e possamos utilizar na frota e no movimento logístico. Foi muito gratificante perceber que tudo o que viemos construindo nos últimos dois anos é uma realidade. Agora o que falta é só buscar escala. Queremos conscientização de que o biometano não é um futuro, é uma realidade, já existe, então vamos fazer com que seja difundido, desejado e comercializado de fato”, completa Daniel.
Esse desafio de abrir o mercado e criar escala para a comercialização e o uso do biogás e biometano é também um objetivo para a GasBrasiliano. “Somos grandes entusiastas porque a partir da rede podemos dar acesso à distribuição para o mercado consumidor. Apostamos muito nisso. A minha visão de futuro é que a região noroeste de São Paulo se torne um hub de produção e comercialização de biometano para todo o estado. Temos um potencial muito grande de criar e conectar produtores e distribuidores para criar um mercado de biometano liquido e competitivo”, sinaliza Alex.
Desafios e oportunidades
Embora os desafios pareçam muitos, os executivos estão otimistas. “Está claro hoje para todo mundo que o biometano no Brasil é realidade. Estamos falando de projetos para uso do biometano no transporte pesado, temos várias operações, testes e operações piloto já com bastante sucesso, mas não podemos esquecer que já temos o uso do biogás como combustível em cidades do Rio de Janeiro e do Paraná, por exemplo. Ou seja, não é um projeto, um plano, ou só um teste. É a realidade. O biogás é confiável, sustentável e com qualidade garantida”, comenta Gabriel.
Daniel complementa: “Penso que a pandemia nos fez acordar para olhar para isso muito mais do que olhávamos antes, achando que seria um futuro que em algum momento seria tratado. Nos fez pensar em que mundo queremos continuar vivendo e trilhando nossos passos. A gente constrói o nosso futuro, mas mais do que isso, como vamos deixar o mundo para nossos filhos e netos? Não vamos desistir, falta pouco para se tornar uma realidade extremamente difundida. Já é uma realidade prática, vamos construir um mundo mais sustentável”, conclui o CEO.
Veja mais detalhes desse bate-papo, que foi uma verdadeira aula sobre combustíveis sustentáveis:
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