Dos protocolos de saúde e cuidados com a tripulação em alto mar às decisões diárias: a Dracares Apoio Marítimo e Portuário, cliente do Grupo Mevepi, nos ajudou a entender como, em meio à pandemia, mantém suas atividades, já que assim como o transporte terrestre, as operações marítimas e portuárias também não podem parar.
Você já pensou em como é o dia a dia de quem trabalha embarcado? A rotina normal desses profissionais é de confinamento, assim como a que você vem vivenciando nas últimas semanas em virtude dos cuidados com o coronavírus - ou até mais intensa, por ser em alto mar. Como será, então, que eles e as empresas onde trabalham estão lidando com este momento? A Revista Jornada foi em busca dessa história para conhecer as boas práticas antes, durante e depois da chegada dessa pandemia.
Quem nos conta mais detalhes é Jaqueline Neitzel Farias, Gerente de Qualidade, Segurança, Meio Ambiente e Saúde da Dracares, uma empresa de apoio marítimo e portuário de São Francisco do Sul, em Santa Catarina. “Como estamos em uma área de atuação onde o distanciamento social é restrito e temos colaboradores embarcados em alto mar, adotamos várias medidas de segurança. Uma delas foi instituir um formulário de triagem com uma série de procedimentos de verificação, com base no aplicativo do SUS (Sistema Único de Saúde). Enviamos o formulário ao tripulante que irá embarcar com certa antecedência e esse documento é devolvido para nossa análise antes de as equipes viajarem até o local do embarque de quem está em solo e desembarque de quem estava em alto mar. Assim, se entre a tripulação houver qualquer suspeita, temos tempo para administrar a situação e substituir o profissional que iria embarcar para não haver uma possível contaminação dos demais. Temos que ter esse cuidado, uma vez que, com um caso suspeito a bordo, temos que tratar a tripulação inteira como caso suspeito, já que eles convivem em ambiente limitado e restrito, que é a própria embarcação. Complementar ao formulário de triagem aplicado antes do embarque, adotamos uma planilha para monitoramento diário dos sintomas do COVID-19 a bordo. No caso de algum sintoma apontado, o comandante da embarcação deve imediatamente tomar as medidas com base nos procedimentos da autoridade sanitária”, explica.
O básico também foi feito: “Já era um hábito nosso fornecer álcool em gel para toda a tripulação, mas agora intensificamos essa prática”. Mas, Jaqueline destaca outra ação, além de disponibilizar kits de EPIs para o caso de alguém apresentar qualquer sintoma a bordo, que foi a contratação de um serviço de regulação médica para as embarcações. “Se alguém está em alto mar e passa mal, eles têm um número para ligar e serem atendidos por telefone por um médico, que fará um atendimento inicial e indicará a necessidade de um atendimento externo. Isso serve para qualquer situação e não só para sinais de coronavírus”, conta.
Além disso, a empresa providenciou vacinação contra a gripe para todos os colaboradores e colocou parte das equipes que trabalham em solo para atuarem de suas casas o quanto possível: “Todos os que podem estão em home office. Com a tecnologia conseguimos garantir fluidez das informações. Até os treinamentos estão sendo virtuais. Fazemos muitos deles com a tripulação. Então, agora, ele acontece via internet, por meio do Skype.”
Confinamento em terra e mar
O uso da tecnologia tem ajudado a tripulação, inclusive, a diminuir a saudade de casa - o que, aliás, preocupa a Dracares e faz com que a empresa não meça esforços para minimizar o lado não tão bom de viver em confinamento. Com o início da quarentena e todos os cuidados recomendados pelos órgãos de saúde aqui no Brasil, a empresa precisou estender o tempo de permanência da tripulação que está em alto mar de 28 dias, como normalmente acontece, para 56.
“Eles agora têm que ficar mais tempo embarcados. Explicamos que é uma decisão da empresa que visa a saúde e a segurança deles para reduzir a exposição. Nos preocupamos com quem está embarcado e também com quem não está. Ao desembarcar e ir para o aeroporto, por exemplo, o tripulante se expõe ao risco, expõe também a sua família e a outra tripulação que vai embarcar. Mas ao mesmo tempo não posso ficar mais do que esse período com eles embarcados. Como vai estar depois desse tempo? Será que não seria melhor ter desembarcado a equipe antes? Até existe a dúvida, mas por agora essa foi a melhor decisão a ser tomada. Com isso, temos buscado, como sempre fizemos, mas agora mais intensivamente, garantir para a tripulação que se comuniquem com seus familiares. Nós também mantemos contato constante com eles, passando as atualizações que recebemos. Deixamos a equipe tranquila, eles sabem que estendemos o prazo, mas nada impede de anteciparmos a troca da tripulação se o cenário mudar”, detalha Jaqueline.
Atualmente, das quatro embarcações da empresa que estão em alto mar, duas são equipadas com motores Scania: Apolion, com dois motores auxiliares Scania DI09 074M, e Elizabeth, que possui o mesmo modelo da marca, porém com o motor acoplado na bomba de incêndio. Aliás, para quem não sabe, é preciso escolher um nome para a embarcação ao registrá-la junto à Capitania dos Portos. Na Dracares, esses foram dois dos nomes eleitos e a bordo de cada um desses barcos está um time de oito tripulantes, que desempenham funções diversas, de comandante a cozinheiro.
Em terra firme
Se por um lado há quem já estivesse, de certa forma, acostumado com a vida em confinamento, por outro há os que seguem em solo, tentando adaptar suas rotinas para não deixarem parar o trabalho nas bases de atendimento de emergência nas áreas portuárias. Afinal, assim como o transporte rodoviário, este é um setor que também contribui para que os itens de necessidade básica da população sejam mantidos durante a crise. “Não podemos parar, estamos relacionados à atividade portuária, atividade esta que garante o abastecimento de hospitais, importação e exportação de mercadorias essenciais. Fazemos todo o background com as atividades de apoio portuário incluindo os processos de amarração e desamarração de embarcações e o atendimento de emergências ambientais, e isso precisa continuar acontecendo. É fundamental nesse momento para não cessar a chegada de bens básicos à população”, lembra Jaqueline.
Esse suporte em terra também vem sendo prestado pela equipe do Grupo Mevepi, responsável por atender a Dracares. O Coordenador de Desenvolvimento e Serviço do Grupo, Kenedy Bueno da Silva, explica que, além de seguir os protocolos de cada cliente, a concessionária adotou alguns cuidados extras e manteve as Casas abertas, com redução da equipe, para qualquer assistência ou serviço necessário. “Estamos seguindo à risca todas as orientações, tanto da Scania, da Organização Mundial de Saúde como do próprio cliente quando precisamos fazer uma visita. Disponibilizamos máscaras, luvas e álcool gel, itens de uso obrigatório para esse período, e orientamos os nossos consultores a respeitarem todo o protocolo exigido por cada um de nossos clientes. Os carros do Scania Assistance e de suporte também foram equipados com kits com esses itens. E, mesmo diante da situação delicada, mantivemos todas as Casas do Grupo abertas, com 50 a 60% da equipe. As pessoas que se encaixam no grupo de risco estão em casa. Mas nosso objetivo é estar ao lado de nossos clientes como parceiros nesse momento mais crítico”, comenta Kenedy.
Esses protocolos, segundo Jaqueline, são quase que diários. “É uma decisão por dia. Todo dia recebemos um protocolo diferente de um cliente também e das autoridades. Temos que estar alertas para seguir tudo que nos for pedido”, ressalta.
Talvez esse seja um dos aprendizados desta fase que estamos vivendo – e certamente as tripulações embarcadas concordariam: viver um dia (e uma onda) de cada vez.
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