[ Sustentabilidade ]
Sempre em movimento
[ Texto: Simone Leticia Vieira / Fotos: Wagner Menezes ]
Dois motores a gás, lixo como matéria-prima, um empresário visionário e um ciclo sustentável completo: economia e bons resultados de negócios, reaproveitamento de insumos, redução de emissão de poluentes e devolução de CO2 natural para o meio ambiente.
O
que parecia lixo virou matéria-prima. Dela, nascia um produto voltado para a exportação. Foi assim na Koala Energy, uma empresa de Rio Negrinho, cidade de Santa Catarina, no Sul do Brasil, que transforma resíduos em biomassa de madeira.
A Koala iniciou suas atividades em 2002 fabricando molduras de madeira para atender o mercado norte-americano e em 2005 passou a utilizar os resíduos dessas molduras para produzir a biomassa, que daria vida aos pellets de madeira. Para quem não conhece, os pellets são um combustível ecológico com emissão neutra de CO2, sem adição de produtos químicos e de alta eficiência energética, que podem ser utilizados em diversas aplicações, como por exemplo como combustível em lareiras, trocadores de calor, fornos, entre outros, além de também servirem como granulado higiênico e ecológico para animais.
[ Em números ]
É a quantidade de litros de óleo diesel que deixa de ser queimada ao se utilizar como matriz energética todo o volume de pellets produzido pela Koala em um ano.
Fabiano Castilho, Engenheiro de Projetos da Koala.
“Conheci esse produto na Suécia e na Dinamarca. E logo pensei em trazer a ideia para o Brasil. Quando começamos, o mercado americano passou por uma crise tão severa que eu parei de gerar resíduo. Como eu tinha pouca demanda, a empresa de pellets também não operava. Comecei a comprar resíduo, mas precisava encontrar consumidor para esse produto. Foi quando demos início ao desenvolvimento de máquinas, caldeiras, queimadores, fornos. Tudo isso tentando achar uma solução para o consumo dos pellets. E deu certo”, conta Sérgio Klaumann, proprietário da Koala Energy.
A Scania sempre esteve presente nessa trajetória. Mas foi em 2017 que a parceria com a marca se fortaleceu ainda mais. “Eu já conhecia os motores V8, inclusive em caminhões. Nós já tínhamos motores Scania em geradores da empresa e eles iam muito bem. Mas os custos do óleo diesel ficaram elevados. Com o lançamento desses motores V8 totalmente movidos a gás natural da Scania na Fenatran, em 2017, entendemos que teríamos uma redução significativa do custo operacional e também ganharíamos em sustentabilidade para o negócio”, explica ele, que foi o primeiro cliente a comprar o novo motor V8 movido a gás da Scania no Brasil.
Os dois novos motores foram, então, instalados em fase de testes. “Fomos os pioneiros a colocar motor a gás em funcionamento. No início tivemos muitas dificuldades, primeiro por sermos pioneiros e segundo por uma característica de carga muito particular da Koala, que resultava na aplicação de uma carga instantânea acima do que os motores tinham capacidade de suportar. Com alguns ajustes na distribuição das cargas, a questão foi resolvida”, pontua o Engenheiro de Projetos da Koala, Fabiano Castilho.
De lá pra cá, os resultados só comprovaram os grandes benefícios: redução de custo operacional, que chega a ser de 65% em comparação ao diesel, sustentabilidade e otimização da operação, pois os motores também são utilizados para cogeração de energia dentro da fábrica.
“Temos duas funções para esses motores para aproveitar o máximo da energia gerada: produzimos energia elétrica para a fábrica e utilizamos tanto os gases de escape como o sistema de ventilação dos radiadores para fazer a secagem da madeira no processo de produção dos pellets”, destaca Klaumann.
“A Koala é um grande exemplo para nós na cogeração e na eficiência do motor a gás. Uma coisa é fazer geração a gás, que é simplesmente acoplar um gerador a um motor para produzir energia. No caso dele, o proveito da energia é ainda maior, porque ele pega o calor que é gerado no escapamento do motor para fazer a secagem da madeira”, complementa Otavio Barros, Gerente de Vendas de Motores Industriais e Marítimos da Scania no Brasil.
Em números, isso se traduz em 36% de eficiência na geração de energia elétrica e 62% de eficiência térmica. Isso sem falar que o volume de pellets produzido pela Koala anualmente tem capacidade para substituir, como matriz energética, 40 milhões de litros de óleo diesel. “Imagina o que isso teria gerado de resíduos no planeta?”, questiona Klaumann.
“Não é que o pellet não gere CO2, ele gera. Só que essa quantidade é consumida pelas árvores, que precisam de sol e CO2 para fazer fotossíntese. Então, o ciclo fecha. O que eu gero na queima, eu consumo na minha floresta. A indústria entra no ciclo natural”, complementa Fabiano.
E é esse resultado que faz com que o fluxo de produção da Koala seja cada vez mais sustentável, beneficiando o negócio em si, os clientes da empresa e o meio ambiente. São 24 horas por dia, sete dias por semana, 365 dias por ano de uma operação que entrega 200 contêineres de pellets por mês a países como Reino Unido, Itália e Alemanha – um total de 6 mil toneladas. “Hoje, nossa média de produção é de 70 a 72 mil toneladas por ano. Mas até meados de 2020, vamos alcançar 100 mil”, diz Klaumann. É a sustentabilidade do negócio, sempre em movimento.
65%
É a redução de custo operacional, em comparação ao diesel, obtida pela Koala com os motores a gás natural da Scania em sua fábrica de pellets.