[ Entrevista ]
Um novo jeito de transportar
[ Texto: Carlos Eduardo Biagini / Fotos: Tiago Barella ]
Em entrevista exclusiva à Revista Jornada, o Diretor Administrativo da Transpanorama e Diretor-Presidente do G10, uma das cinco maiores empresas no ramo de transporte rodoviário do Brasil, fala sobre a experiência do Grupo com a Nova Geração Scania e revela sua visão sobre o momento atual e o futuro do setor de transportes.
C
laudio Adamuccio é um dos transportadores mais experientes do Brasil. Aos 59 anos, o empresário, que é natural de Osvaldo Cruz, interior de São Paulo, acompanha e cuida de sua frota bem de perto, incentiva e valoriza seus motoristas e luta ativamente pelos direitos do setor em fóruns de entidades de classe e do poder público. Isso sem deixar de estar antenado com as tendências, as novas tecnologias e o futuro do transporte de cargas rodoviário.
À frente do G10 e da Transpanorama, empresas que são referências para a Scania quando o assunto é inovação e conectividade, Adamuccio investiu recentemente em 300 caminhões da Nova Geração, todos com o Programa de Manutenção com Planos Flexíveis, algo inédito no Grupo. Desse total, 73 já estão conectados por meio do pacote Desempenho dos Serviços Conectados da marca e a expectativa é de implementar essa tecnologia em toda a frota.
Quando foi o primeiro contato com a Nova Geração Scania?
Foi em 22 de agosto de 2016, em Paris, no lançamento mundial realizado pela matriz. Tive o privilégio de conhecer o engenheiro-chefe do projeto e ele me deu muitos detalhes do produto. Já imaginei o quanto seria bom quando chegasse ao Brasil.
Qual a sensação de entrar para a história da Scania com a maior compra até o momento, junto com a AMAGGI, de 300 modelos da Nova Geração?
Já tivemos outros momentos importantes com a Scania, dentre eles a parceria no lançamento da solução 8x2 rodoviária, mas agora a satisfação pessoal é muito maior. Estamos vivendo um período especial.
A frota adquirida atuará em novos segmentos?
Não, vamos manter e fortalecer os ramos de atuação. Hoje, temos um mix diversificado: grãos, postal/e-commerce, aço, combustíveis, fertilizantes, sementes, produtos de higiene e limpeza e alimentos. Atuamos com sider, baú, tanques e graneleiros. Hoje, a divisão do faturamento está em 35% para postal/ecommerce (entregas para os Correios), 35% nos grãos, combustíveis (10%), e os outros 20% divididos respectivamente.
Minha geração deixará sistemas inteligentes com motoristas mais bem treinados. Tenho orgulho de ser transportador.”
Claudio Adamuccio, Diretor-Presidente do G10 e Diretor Administrativo da Transpanorama.
Como foi a experiência de customização da Nova Geração?
Fizemos a personalização em parceria com a fábrica e a P.B.Lopes juntando nossa experiência e a realidade das rodovias. Seguimos as orientações da Scania e definimos em conjunto que os melhores produtos seriam o R 450 e o R 500 para substituir os antigos R 440 e R 480. Com a Nova Geração chegaram muito mais opções de cabines, alturas e outros benefícios. Queremos sempre ter o melhor e o mais adequado para nossa operação.
Como é a escolha dos motoristas para dirigir a Nova Geração Scania?
Os melhores graduados (ouro, prata e bronze) são os primeiros a receber respectivamente. Mesmo assim, há uma grande ansiedade. Para estar nas categorias eles precisam respeitar legislação, velocidade, cumprir os intervalos da jornada de descanso, dirigir defensivamente, entre outros fatores somados. Fazemos de fato uma gestão exemplar com os motoristas, é um orgulho. O motorista ouro escolhe o implemento e a operação de atuação (grãos ou combustíveis, por exemplo) e define até a cor da cabine que ele vai querer.
Qual o desafio para atrair e reter motoristas?
Enorme. Na Transpanorama, por exemplo,
temos alguns programas de incentivos.
Todos os meses gratificamos os 15 melhores
motoristas, no ‘Gestão na Boleia’. No
‘Motoristas no Podium’ os graduamos nas
categorias ouro, prata e bronze, e premiamos
com diversos benefícios e recompensas extras.
As premiações são para que eles se sintam
valorizados e permaneçam na empresa. A
principal premiação é o recém-criado Rei da
Boleia, que já reconheceu o vencedor de 2018.
O melhor motorista será coroado e permanece
assim durante o ano seguinte. Um dos prêmios
é realizar um sonho da família. Ele já está
dirigindo um Nova Geração Scania.
E a parceria com a Casa P.B.Lopes, a concessionária que atende o G10?
É maravilhosa. São 18 anos de relacionamento. Nos respeitam e dão assistência com agilidade. Lutam sempre para nos dar suporte com o volume de caminhões que precisamos. É uma verdadeira parceria.
Qual sua visão sobre os serviços?
É tradicional termos programas de manutenção e valorizo muito os serviços. Tenho uma filial da P.B.Lopes dentro do meu pátio. Tenho proximidade para diminuir qualquer problema da operação, isso ajuda muito no meu dia a dia.
E a conectividade?
É fundamental. Na frota Scania, começamos em 2017 com o pacote de entrada dos Serviços Conectados, o Análise, que veio gratuitamente com a frota anterior. Com a chegada da Nova Geração, contratamos o Programa de Manutenção Scania com Planos Flexíveis para todos os 300 caminhões e estamos conectando todos os veículos com o pacote Desempenho de acordo com as entregas. Uma equipe, que conta com o apoio da concessionária P.B.Lopes, está analisando todos os benefícios e pensamos, sim, em implementar a solução mais completa em toda a frota.
Como é este novo jeito de transportar? Você é tão ligado na defesa do setor, de ir até Brasília, brigar pelos direitos. O que a sua geração deixará para os futuros transportadores?
Que a parte mais difícil estará feita. Quando começamos não existia celular e internet; a comunicação e a gestão do caminhão não eram como hoje temos na telemetria; não haviam programas de conectividade inteligente e quem imaginaria que alguém numa sala iria acompanhar toda a trajetória do veículo em tempo real, analisando o que ele e o motorista estão desempenhando no trajeto. E, dessa forma, tomar as medidas certas para cada produto e treinar melhor o condutor. Minha geração deixará sistemas inteligentes com motoristas mais bem treinados. Tenho orgulho de ser transportador.
Quais as principais reivindicações que estão sendo pedidas para o setor?
Existem várias. Uma delas é o marco regulatório, pois não há uma regulamentação específica para o setor. Quando aprovado, vai mudar o jeito como é feito o transporte. A segunda é o piso mínimo. O governo aprovou em lei, mas não está sendo cumprida. Ainda não sabemos como terminará este tema. Pedimos um preço mínimo do frete, para que não haja um canibalismo injusto. Esperamos por um consenso bom para todos.
Quem vai sobreviver no mercado de transportes de cargas?
Quem tiver a operação com muita tecnologia, custos extremamente enxutos e verdadeiras parcerias de negócio. Não vejo uma má gestão permanecendo no futuro. Em Paris, em 2016, no lançamento da Nova Geração da Scania, houve uma palestra com a federação local de transportes. Lá as empresas já não se sustentam apenas com o faturamento do frete ou com as margens do transporte. Se a transportadora não tiver um Centro de Distribuição, acordos de coletas e distribuição e armazenagem para cuidar do ciclo completo não perdura. Tenho que antecipar tendências para continuar saudável no mercado.
É possível ter um sistema de transporte mais sustentável?
Sim. Em 2019, eliminaremos da frota os poucos caminhões de motor Euro 3, que são da legislação anterior de emissões. Manter toda a frota Euro 5 é primordial para contribuir com o meio ambiente. Mantemos a manutenção sempre em dia para diminuir as emissões. Treinamos os motoristas para dirigir na faixa econômica e assim também diminuir as emissões.
E o transporte do futuro?
Creio que não verei no Brasil, por questões – no momento – de legislação, a autonomia de nível 5. Acho que verei até o nível 4 dos caminhões autônomos. Acredito que deixarei a minha frota dentro deste conceito fazendo o comboio de caminhões conectados entre si (platooning). A autonomia chegará, porém, e se furar um pneu da composição? Vai precisar de uma pessoa para trocar. Por isso, acho que o nível 5, de automação total, não será possível no transporte rodoviário, apenas em operações confinadas, na mineração, por exemplo.