[ OPINIÃO ]
Por uma mobilidade mais
Limpa
[ Texto: Antonio Ferro / Foto: Arquivo pessoal ]
D
entre as opções de combustíveis e trações para a composição de uma nova matriz energética dos ônibus urbanos, o gás natural se apresenta com viabilidade econômica e ambiental ao alcance de operadores e cidades compromissadas com o desenvolvimento sustentável.
Além do combustível de origem fóssil, há ainda a sua versão biometano, proveniente de fontes formadas por elementos que são descartados, como os dejetos animais, orgânicos, lodo sanitário e o lixo. Como se vê, há um poder de transformação positivo com baixo impacto ambiental.
Entretanto, o Brasil não soube aproveitar dessas benesses ecológicas para uso como tração de veículos automotores. Somente nos últimos anos é que estamos vendo algumas mobilizações em direção do maior e melhor aproveitamento desses combustíveis, que se completam.
O potencial brasileiro para ambos é enorme. Temos extensas áreas de extração do gás natural e a capacidade para se produzir o biogás, fonte primária do biometano, é de 82 bilhões de m³ por anos, segundo a ABiogás. Apenas em biometano a produção é da ordem de 78 milhões de m³ por dia, o suficiente para substituir 47% do diesel utilizado na matriz energética do transporte.
Segundo Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura, em sua coluna no jornal O Estado de São Paulo do dia 15 de dezembro de 2018, o setor de gás no Brasil precisa sair da caverna, pelo fato de os agentes envolvidos em sua produção e comercialização não se entenderem quanto à verdadeira importância e valor que cada um possui na cadeia econômica.
Ainda de acordo com o especialista, o setor de gás no País não conta com mecanismos legais e regulatórios que garantam o seu desenvolvimento. Pires destaca que, enquanto nas principais economias do mundo cresce a participação do combustível como energético de transição para uma matriz mais limpa, a evolução do setor por aqui é pífia.
Outro tipo de combustível relacionado ao gás é a sua versão liquefeita, que se mostra como tendência para uso e operações no transporte rodoviário, tanto de passageiros, como de carga. Alguns mercados na Europa e também na China apostam nas tecnologias de propulsores movimentados pelo GNL (Gás Natural Liquefeito).
Aqui, pelos lados da América Latina, há um panorama favorável para o GNV (Gás Natural Veicular) comprimido na área de transporte coletivo urbano, com o mais recente exemplo colombiano, onde o sistema de BRT (Trânsito Rápido de Ônibus) da capital Bogotá contará com 741 grandes ônibus da marca Scania equipados com motores Euro 6 abastecidos pelo GNV, representando assim ganhos ambientais (até 98% menos emissões de material particulado é óxido de nitrogênio em relação aos propulsores a diesel Euro 5) e econômicos (custo operacional 30% menor em comparação ao diesel).
Com um significativo volume de ônibus movidos a gás, o sistema Transmilenio é uma grande oportunidade de mostrar ao mundo todos os benefícios proporcionados pelo combustível gasoso à rede urbana de transporte massivo.
Além de Bogotá, outra cidade colombiana, Cartagena, já conta com um sistema de transporte público composto por ônibus Scania com motores a gás Euro 6, apresentando êxito operacional.
Se no passado esse combustível não teve sucesso no mercado brasileiro, em função de muitos pontos negativos, hoje o cenário é outro, pois houve avanços que tornaram o gás um energético factível para as frotas de ônibus. A tecnologia dos propulsores evoluiu, há grande disponibilidade do insumo, o processo de abastecimento é mais rápido e a questão ambiental reflete uma necessidade por seu uso.
A própria Scania é um exemplo nessa área, com veículos e tecnologia de última geração à disposição do mercado brasileiro
Enquanto a eletromobilidade não tiver seu espaço definido no segmento de transportes, o GNV é a alternativa real de transição para aquelas regiões abundantes do combustível, objetivando rentabilidade e metas ambientais para uma mobilidade urbana eficiente.